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Certa
vez recebi um e-mail com uma imagem anexada em que um rapaz negro
exibia uma enorme suástica tatuada no peito. Não dá para afirmar com
segurança, mas é muito provável que esse indivíduo não tivesse, à época
em que se tatuou, a menor noção do que foi o Nazismo.
O
mesmo tipo de estranheza — de sensação de coisas que não combinam — me
causa a devoção de uma mulher pelo Deus bíblico. Eu me pergunto: será
que ela, alguma vez, já se inteirou do que esse Deus pensa dela? A
experiência me diz que não. Como o rapaz da suástica em relação ao
Nazismo, elas também não fazem ideia de quem seja Deus.
O
Deus da Bíblia, coincidentemente, tem a mesma visão da mulher que
tinham os homens que escreveram suas falas, alguns milênios atrás, num
lugar onde nascer com uma vagina era a segunda pior coisa que poderia
ocorrer a um ser humano. A primeira era não oficializar, no devido
tempo, que essa vagina era propriedade de um determinado homem; e só
dele. Isso porque a pena para uma portadora de vagina sem dono era a
morte por apedrejamento.
Como
bem observou Richard Dawkins, a mulher só tem valor na Bíblia se for
esposa ou mãe. Uma solteirona, naqueles tempos, poderia ser facilmente
denunciada como bruxa, ou adúltera, e morta por apedrejamento, sem
necessidade de provas ou julgamento. Um boato era o suficiente.
Quando
umas senhoras vieram à minha porta, esse domingo passado, vender seu
Jesus Cristo pra mim, eu fiz as minhas duas perguntas-padrão:
— Vocês já leram toda a Bíblia?
— Nós lemos todo dia.
— Não foi isso que eu perguntei. Vocês já leram sua Bíblia do começo ao fim?
Não: nenhuma delas tinha lido. Na verdade, nunca ninguém a quem já fiz essa pergunta respondeu com um sim.
Na minha segunda pergunta-padrão, eu sempre menciono algum trecho em que Deus demonstra seu desprezo pelas mulheres:
— Vocês sabiam que é por causa de vocês, mulheres, que existe a morte? [Eclesiástico 25:33]
— Vocês sabiam que Deus acha correto matar mulheres que se casam não sendo mais virgens? [Deuteronômio 22:20]
— O que vocês acham da ordem de Deus para que a mulher se sujeite e seja dominada pelo marido? [Gênesis 3:16, Pedro 3:1]
A essas minhas perguntas, invariavelmente, a resposta também é padrão:
— Ah!, mas isso tudo está no Antigo Testamento!
Aparentemente,
Deus poderia ter economizado um monte de pergaminho — e vidas humanas —
mandando escrever apenas o Novo Testamento, já que o Antigo não serve
pra nada. Ou, como aquelas senhoras disseram: “Tudo isso foi abolido com o sacrifício de Jesus…”
Interessante notar que Jesus mesmo nunca mencionou nada a respeito. Ao contrário:
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”
Aquelas
senhoras, então, tentaram me mostrar como a Bíblia “explica” que Jesus
aboliu as leis terríveis do Antigo Testamento, e como entendem que Deus
não tem mais aquele desprezo por elas.
É
justamente aí onde se percebe o malabarismo mental que essas pessoas
precisam fazer, devidamente conduzidas por seus “pastores”, de forma que
suas crenças não sejam abaladas pela simples constatação de que os
textos bíblicos não vieram de Deus, mas dos “homens” que o inventaram.
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